a coluna vertebral
A coluna vertebral, também chamada de espinha dorsal, estende-se do crânio até a pelve. Ela é responsável por dois quintos do peso corporal total e é composta por tecido conjuntivo e por uma série de ossos, chamados vértebras, as quais estão sobrepostas em forma de uma coluna, daí o termo coluna vertebral.
a medula espinhal
Medula Espinhal – Anatomia. O que é e Qual a Função. A medula espinhal é uma haste nervosa mais ou menos cilíndrica, que ocupa o canal raquiano, desde o buraco occipital até a segunda vértebra lombar.
as vias da dor
Vias nervosas periféricas da dor
A via rápida ou do trato neoespinotalâmico é a mais recente evolutivamente. É iniciada por estímulos mecânicos ou térmicos principalmente. Ela utiliza neurônios de axônios rápidos (isto é de grande diâmetro), as fibras A-delta (12-30 metros por segundo). Esta é a via que produz a sensação da dor aguda e bem localizada. O seu neurônio ocupa a lâmina I da medula espinhal e cruza imediatamente para o lado contrário. Aí ascende na substância branca na região antero-lateral até fazer sinapse principalmente no tálamo (núcleos póstero-lateral-ventrais), mas também na formação reticular.
A via lenta ou do trato paleoespinotalâmico é a mais primitiva em termos evolutivos. É iniciada pelos fatores químicos. Ela utiliza axônios lentos de diâmetro reduzido e velocidades de condução de apenas 0,5 a 2 m/s. Esta via produz dor mal localizada pelo indivíduo e contínua. O seu neurônio ocupa a lâmina V da medula espinhal e ascende depois de cruzar para o lado oposto no tracto antero-lateral, às vezes não cruzando. Fazem sinapse na formação reticular, no colículo superior e na substância cinzenta periaqueductal.
Se por exemplo um indivíduo sofrer um golpe, a sensação de dor imediata é a rápida, devido às forças mecânicas que alongam o tecido conjuntivo onde se localizam receptores de dor. Esta dor dura apenas um tempo muito limitado. Mas à medida que o tecido morre e extravasa o conteúdo celular com diversas substâncias, e chegam à região danificada as células inflamatórias, a dor que permanece é a dor lenta.
Vias nervosas centrais
As sensações corporais, táteis, térmicas e dolorosas convergem para o tálamo, que funciona como uma rede de interpretação sensitiva, em alguns de seus núcleos, alguns dos quais emitem projeções ao córtex cerebral, a partir do qual é possível a consciência da sensação dolorosa, ou seja, este é o momento neural após o qual a dor pode ser percebida. A dor mais significativa do ponto de vista terapêutico é quase sempre aquela que é produzida pela via lenta. A via rápida produz apenas sensações de dor localizada e de duração relativamente curta que permitem ao organismo afastar-se do agente nociceptivo, mas geralmente não é causa de síndromes em que a dor seja a principal preocupação terapêutica. A dor crônica tem origem quando os impulsos recebidos pela via lenta são integrados na formação reticular do tronco cerebral e no tálamo. Já a este nível há percepção consciente vaga da dor, como demonstrado em animais a quem foi retirado o córtex.
O tálamo envia os impulsos para o córtex somatosensor e para o giro cingulado. No córtex cingulado é processada a qualidade emocional ou afetiva da dor (sistema límbico), enviando impulsos de volta para o córtex somatosensor. É aí que se originam qualidades mais precisas, como tipo de dor, localização e ansiedade emocional.
A dor tem um efeito de estimulação da maioria dos circuitos neuronais. Estes efeitos são devidos à ativação de circuitos a nível dos núcleos intralaminares do tálamo e das formações reticulares pelos axônios de tipo C (lentos) que aí terminam. A ativação por estas fibras das formações reticulares leva à ativação em spray do córtex cerebral, e principalmente do lobo pré-central, já que a formação reticular também é responsável pela regulação do estado de vigília. Esta estimulação traduz-se num maior estado de alerta e excitabilidade do doente que sofre de dor, principalmente se esta é aguda.
DOR NOCICEPTIVA, DO NEUROPÁTICA E DOR MISTA
Os diferentes tipos de dor podem ser classificados em relação à sua natureza ou origem neurofisiológica. Essa classificação se baseia nos mecanismos dolorosos desencadeantes, e diferencia as dores em nociceptivas e neupáticas.
A dor nociceptiva deriva de uma lesão tecidual contínua, e neste caso o sistema nervoso central se mantém íntegro. Esse tipo de dor ocorre quando há ativação dos nociceptores, que são receptores sensoriais que enviam sinais que causam a percepção da dor em resposta a um estímulo potencial de dano. Os nociceptores são receptores silenciosos e não captam, respondem ou sentem estímulos normais. Somente quando estimulados por uma ameaça em potencial ao organismo humano, eles desencadeiam o reflexo da dor.
A outra manifestação de dor persistente é a dor neuropática, que ocorre quando nervos no sistema nervoso central ou periférico não estão funcionando corretamente. Essa dor é percebida sem que haja lesão tecidual ativa, e se deve a um dano neurológico ou de origem psicossocial (também chamada dor psicogênica).
São exemplos de dor nociceptiva:
- dor inflamatória;
- dor traumática;
- osteoartrite;
- dor visceral;
- dor pós-operatória.
São consideradas dores neuropáticas:
- neuralgia pós-herpética (dor nos nervos, frequentemente envolvendo a pele da face, resultado de uma ativação do vírus do Herpes);
- neuralgia do trigêmeo (nervo facial que, ao apresentar distúrbio neuropático, causa episódios inesperados de dor intensa nos olhos, lábios, nariz, couro cabeludo, testa e mandíbula);
- neuropatia diabética (dor causada por lesão nos nervos em virtude da glicemia elevada);
- neuralgia pós-traumática (dor resultante de lesão nos nervos após acidente ou trauma);
- dor pós-acidente vascular cerebral (AVC);
- dor em avulsão de plexos (ocasionada por deslocamento de rede de nervos);
- lesão na medula espinhal.
Em algumas situações, pode ocorrer dor considerada mista, que apresenta origens nociceptivas e neuropáticas, como cervicobraquialgias (dor cervical que se irradia pelo membro superior), lombociatalgias (dor lombar que se irradia para a nádega e face posterior da coxa, podendo estender-se até o pé), radiculopatia cervical, torácica e lombar (resultante de compressão ou irritação de um nervo que sai da coluna vertebral), dor oncológica (derivada de um câncer) e neuropatias compressivas (em razão da compressão de nervos periféricos).
Como foi possível perceber, a dor pode ter inúmeras causas. O diagnóstico bem feito por um profissional capacitado, com a colaboração do paciente, pode ser a chave para a indicação adequada de tratamento e consequente melhora da qualidade de vida do paciente.
Referências
Baron R, Binder A, Wasner G. Neuropathic pain: diagnosis, pathophysiological mechanisms, and treatment. Lancet Neurol 2010;9:807–19.
Woolf CJ. What is this thing called pain? J Clin Invest. 2010 Nov; 120(11): 3742-4.